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PRIMEIRAS FONTES NÃO-CRISTÃS SOBRE JESUS


Os primeiros escritos de não-cristãos sobre Jesus e o cristianismo são raros e bastante tardios. Este fato por si só diz muito sobre o que o cristianismo não era; ele não era um acontecimento inicialmente significativo, sobretudo não era muito distinto de movimentos judaicos similares.
Entre os judeus encontram-se sinais do cristianismo nos escritos de Josefo Flávio, Filon de Alexandria e nos documentos essênios do Mar Morto; estes sinais são pelo menos indiretos, porquanto se referem sobretudo aos essênios, grupo ao qual se aparentavam os cristãos.

Não se ocupam do cristianismo os dois historiadores de língua grega do 1-o e 2-o séculos, - Ariano e Apiano. O primeiro escreveu sobre Alexandre Magno e o segundo sobre as províncias romanas, não incluída a Judéia. A omissão sobre os cristãos se deve à sem importância dos mesmos nas províncias, ainda que não necessariamente na Judéia.
Entretanto, o historiador judeu Josefo Flávio que escreveu em grego, largamente se ocupa dos episódios judeus do primeiro século cristão. Suas referências diretas sobre Jesus parecem uma interpolação; se assim for, é significativo que nada tenha dito sobre o mesmo.

185. Josefo Flávio (c. 37-c.100) escreveu em grego suas obras historiográficas, de considerável importância para o levantamento do quadro de época da Palestina ao tempo de Jesus e imediatamente após.
Destacam-se História da guerra judaica (75-79), Antiguidades judaicas (93-94), Contra Apião (93-96).
Filho de pais de linhagem sacerdotal, aos 26 anos foi para Roma, onde teve a sorte de entrar na corte de Nero e conquistar a simpatia de Pompéia, o que lhe valeu um comando de tropas na Judéia.
Ocorrendo a revolução dos judeus contra a dominação já secular dos romanos, desde os dias de Pompeu, Josefo Flávio resistiu sete semanas numa caverna profunda, com 40 companheiros.
Descoberto por Vespasiano, este lhe propôs o rendimento. Enviado à Jerusalém para convencer aos judeus à capitulação, foi todavia mal sucedido.
Tito, vencedor da guerra e depois Imperador, levou a Josefo Flávio para Roma, onde pôde dar acabamento a sua obra literária. De tal maneira apreciava a História da guerra judaica, que a assinou, depois a haver feito traduzir, colocando-a ainda na biblioteca pública. O estilo é animado e favorecido por uma imaginação brilhante; conforme ponderam alguns, poder-se mesmo compará-lo com o de Tito Lívio.
Em seus livros Josefo Flávio procurou suavizar a oposição entre romanos e judeus. Os milagres são também amenizados no que têm de mais fabuloso. Enfim Josefo Flávio foi um contemporizador, chegando a aplicar profecias messiânicas ao Imperador Vespasiano.


186. Uma referência explícita de Josefo Flávio à pessoa de Jesus encontra-se em Antiguidades Judaicas, que é sua obra histórica principal. Há ali dois textos mencionando Jesus de Nazaré, ao qual só se teria referido após à destruição de Jerusalém, 40 anos depois da crucificação.

Uma é criticamente mais provável de autenticidade, todavia muito breve, na qual se refere à Tiago, de quem narra a lapidação, e que ele designa assim, sem ocultar certo desdém:
"O irmão de Jesus também chamado o Cristo".
Mas o texto mais amplo (cujo valor seria extraordinário, se, pela incoerência com o contexto geral do autor, não oferecesse dúvidas,  - exatamente porque afirmou demais, - é o seguinte:
 "Por esta época apareceu Jesus, homem sapiente, se é que há lugar para lhe chamarmos homem.
Porque ele realizou coisas maravilhosas, foi o mestre daqueles que recebem com júbilo a verdade, e arrastou muito judeus, e igualmente muitos gregos.
Esse era Cristo.
Por denúncia dos principais da nossa nação, Pilatos condenou-o ao suplício da cruz; mas os seus fiéis não renunciaram ao seu amor por ele; porque, ao terceiro dia, ele surgiu-lhes ressuscitado, como o anunciaram os divinos profetas, assim como outros mil prodígios a seu respeito.
Ainda hoje subsiste a seita que, por sua causa, recebeu o nome de cristãos".

Josefo Flávio, referia naquela passagem a existência da pessoa de Jesus como um homem de qualidades exímias, mestre sábio, autor de fatos miraculosos.
Pelo texto dos Evangelhos tudo poderá ter sido assim mesmo. Trata-se de saber porém, se o texto é genuíno. A razão que moveu a duvidar da integridade do texto, é o dizer-se que Josefo Flávio não pudera ter se referido tão favoravelmente à pessoa de Jesus, a ponto de fazer uma afirmação dogmática.
Ainda conduz à mesma dúvida o fato de haver este texto sido desconhecido pelos primeiros padres da Igreja, Orígenes por exemplo, que faleceu c. de 254..
Há exegetas católicos que o negam de todo (P. Lagrange, Mgr. Batiffol).
Refere Karl Adam: "A fonte utilizada por Josefo nas sua Antiguidades fala do governo de Pilatos a propósito de perturbações políticas contínuas. Inserir nesta exposição tão longa reflexão puramente dogmática sobre o Cristo e sem alusão a estas perturbações seria verdadeiramente inexplicável. Assim esta passagem de Antiguidades parece proveniente de uma mão cristã posterior".
Outros porém não se convencem desta razão, sobretudo no caso de Josefo, que fazia afirmações em que ele mesmo certamente não acreditava, como aquela em que atribui a messianidade a Vespasiano.
Além disto, embora não cresse na doutrina de determinado personagem judeu, poderia elogiá-lo independentemente de suas convicções pessoais. O que o autor queria era apenas grandes nomes para a história de seu povo. E não haveria de passar em silêncio o de Jesus e nem o de João Batista. Autores há, católicos e também acatólicos, que defendem o valor crítico de todo o texto (os protestantes, Burkitt, Harnark).
Uma terceira opinião estabelece o texto, mas admitindo que ele se tenha corrompido mediante interpolações (aquelas que destacamos em itálico). Pode-se mesmo aventar a teoria de Th. Reincah de que Josefo Flávio em seu escrito houvesse feito observações menos boas sobre Jesus e que então um autor cristão do 2-o século as houvesse purificado. Somente assim se explicaria porque precisamente em tal lugar se tenha feito a interpolação e porque não tenha sido maior ainda o texto, ao qual um cristão piedoso facilmente teria aumentado.
Mesmo que seja válido o texto de Josefo Flavo sobre Jesus, ele acontece mais de 40 anos depois da morte de Jesus, e nunca chega a ser um documento contemporâneo.


187. Os historiadores romanos, de língua latina, a fazerem primeiras referências aos cristãos, ainda que passageiras, são Plínio o Moço, Cornélio Tácito, Suetônio Tranquilo.
Estas primeiras informações sobre a existência do cristianismo se dão mais de cincoenta anos depois da morte de Jesus. Referem-se mais aos cristãos em geral, do que à pessoa de Jesus.


188. As afirmações de Plínio o Moço (c.62-114 d.C) datam de 111 ou 112 d.C.  Sendo ele prefeito nomeado de Bitínia (capital Nicomédia, na Ásia Menor) e tendo recebido ordens no sentido de tomar medidas a respeito dos cristãos, envia um relatório ao Imperador Trajano, acompanhado de uma consulta.

Tendo recebido denúncias contra cidadãos ditos cristãos, prendeu-os, mas entretanto nada averiguava de culposo neles, conforme esclarece no relatório:
"Eu quis por mim mesmo, examinar o procedimento dos cristãos. Costumam reunir-se em dia determinado, antes de levantar o sol, e cantam hinos em honra de Cristo, a quem veneram como a um Deus. Comprometem-se por um juramento a evitar todos os crimes, e não cometer roubos, nem adultérios, a respeitar a fé jurada, a não ficar com os depósitos confiados. Por estas considerações não continuei as devassas e determinei consultar-vos, pois o número dos que estão em perigo é muito grande e consta de indivíduos de todas a idade, todos os sexos e todas as condições sociais".
Estas informações se encontram distante 80 anos depois de Jesus. Todavia o mencionam como sendo denominado Cristo (Messias) e adorado como a um Deus. Confirmam também outras notícias, segundo as quais na Ásia Menor evoluía o cristianismo. A presença dos judeus na região e a proximidade com a Palestina terão facilitado esta difusão. Fora também desta região o Apóstolo Paulo de Tarso (Cilícia).
Respondeu o Imperador Trajano ao prefeito da Bitínia; "Não se devem procurar os cristãos, mas quando denunciados, se teimarem nas suas superstições, é preciso castigá-los".

A resposta contém uma evasiva praticista. Mas ao dizer que "se teimarem em suas superstições, é preciso castigá-los", o Imperador parece falar no contexto de que no Império nem todas as religiões eram aprovadas e que a dos cristãos era uma das não aprovadas.
De outra parte, o polêmico cristão Tertuliano, ali pelo ano 200, contesta:
"Ou são culpados, ou não. Se são culpados, devem ser procurados e punidos. Se não o são, porque maltratá-los e persegui-los?"
Neste tempo se deu o martírio ou execução de Inácio de Antioquia, capital da Província da Síria (Ásia Menor). Trata-se do autor de Cartas, hoje apreciadas como documentos sobre as doutrinas da época, até mesmo porque Inácio foi discípulo imediato do Apóstolo João.


189. O conhecido historiador romano Cornélio Tácito (54-119) escreveu pelo ano 116, ao tempo de Trajano (Imperador de 98-117) um livro apreciável intitulado Anais (Analles) notoriamente sensato e de senso crítico.
Referindo-se ao incêndio de Roma, acontecido há 50 anos, narra que o povo o atribuíra à iniciativa de Nero, e que este por sua vez o fez atribuir aos cristãos: chrestianos per flagitia invisos. Sabe-se que a velha Roma aproveitou a oportunidade para se reconstruir de maneira mais urbanizada.
Tácito, que se prolonga sobre o assunto, não ousa negar a opinião popular, parecendo consentir que Nero de fato fosse o delinquente. Mas, continua ainda a informar sobre os cristãos.
"Este nome vem-lhes de Cristo, que sob o reinado de Tibério, foi condenado ao suplício pelo procurador Pôncio Pilatos. Esta perigosa superstição um momento detida, em seguida se espalhou não só na Judéia, onde tal peste nascera, mas até em Roma, onde se encontram e acham acolhidas todas coisas,  as mais grosseiras e as mais vergonhosas!"
Impossível pensar numa interpolação, porque as expressões, como "perigosa superstição" e "coisa grosseira e vergonhosa" não se poderiam formar na mente de um escritor cristão. Os dados tão precisos sobre o tempo, o lugar e as pessoas levam a crer que Tácito os tenha obtido diretamente nos relatórios oficiais, ou através dos mesmos cristãos, no que se refere a Pôncio Pilatos.
De outra parte admira que um historiador considerado pela crítica um autor arguto e seguro, emitisse uma opinião bastante negativa sobre os cristãos. Ou estes ainda eram poucos para que dele tivesse melhor notícia.


190. Suetônio Tranquilo (70-122) autor de Vidas dos Césares (De Vitta Caesarum) e secretário do Imperador Adriano, também fez uma referência aos primeiros dias do cristianismo, quando, aos olhos do mundo ainda não se distinguia das seitas judaicas. Escreveu uma Vida de Cláudio (Vitta Claudii) imperador de 41 a 54 em que declara haver este imperador expulso, de Roma, os judeus em constante tumulto, por causa de Cristo:
"expulsou os judeus de Roma, tornados, sob impulso de Cristo, uma causa permanente de desordem".
Cláudio subira ao trono em 41, quando os apóstolos ainda não haviam decidido deixar Jerusalém, vivendo até 54, ano em que falecia por envenenamento. Nero foi seu sucessor, do qual Seutônio também compôs uma Vitta Neronis, em que a alusão aos cristãos se repete.  Mas o mesmo Suetônio escreveu o que disse, apenas depois da virada para o segundo século.
No correr do segundo século, quando o cristianismo criou corpo, os testemunhos de sua existência se tornaram evidentemente mais frequentes.


191. Que teria havido nos arquivos oficiais de Roma sobre Jesus e o cristianismo? Conhece-se da existência de duas modalidades destes documentos oficiais de Roma:
Atas do Senado (Acta Senatus) resultantes das sessões dos senadores;
Correspondências ao Imperador (Commentarii Principis).
Nestes arquivos nada se encontra a respeito de Jesus, não há mesmo um resumo de qualquer deliberação que fosse tomada sobre o cristianismo.
Esta omissão parece lembrar que por muitos anos o cristianismo era tido apenas como uma derivação do judaísmo, ainda que já bastante diferenciado.


192. Pergunta-se a propósito se não deveria haver nos arquivos oficiais de Roma algum relatório de Pilatos ao Imperador Tibério sobre a condenação de Jesus?
A remessa de um tal relatório de Pilatos possivelmente tenha ocorrido, e fôra mesmo provável. todavia, nada se encontra neste sentido.
A pergunta se ergue ainda porque o apologista cristão Justino dirigira pelo ano 150 uma Apologia do cristianismo ao Imperador Antonino, em que alude aos Atos de Pilatos.
Mas o texto desta alusão nada permita determinar se Justino os conheceu, ou se, o que é mais provável, apenas os supõe. Os arquivos do Imperador eram secretos, e a ninguém era permitido consultá-los, informa o historiador contemporâneo Tácito.

Não obstante, pouco depois o cristão Tertuliano opinou, que a frase de Justino tem valor de uma verdadeira afirmação, admitindo que o julgamento e a morte de Jesus tinham sido efetivamente relatados por Pilatos à Tibério.
Finalmente, no século IV, alguns falsários forjarão o documento. Não se aperceberam todavia que o nome do Imperador que mencionam, deveria ter sido Tibério, e não Cláudio, conforme o fizeram.
Tudo isto mostra quanto é obscura a história da origem do cristianismo e quão pouca é a informação contemporânea sobre a pessoa de Jesus.


193. O volumoso Talmud (= instrução) impresso hoje em cerda de 12 volumes, repositório de tradições judaicas e interpretações da Lei (ou Torah), redigido poucos séculos depois de Jesus, oferece também alguns elementos para definir a fisionomia deste e do cristianismo em geral.
Surpreende serem muito poucas as referências do Talmud aos cristãos e a Jesus.

As tradições judaicas e escritos paralelos à Bíblia vieram se desenvolvendo desde a antiguidade, por exigência mesma da alteração das circunstâncias sociais, políticas, econômicas e culturais. A destruição definitiva no ano 70 d.C. da sociedade judia que se havia formado em torno do templo de Jerusalém, resultou em mais uma dessas mudanças postuladoras de interpretação.
Destruída a sede espiritual do judaísmo, - Jerusalém, - o povo, que se considerava eleito de Deus, persiste; passam suas normas a ser geradas em outras academias judaicas, que nas cidades da Palestina, que fora dela, principalmente em Babilônia. Evidentemente que as duas escolas haveriam de rivalizar entre si, diferenciando-se em diferentes ortodoxias.
O trabalho de fixação das tradições judaicas já tivera início antes da destruição de Jerusalém, mas entrou em nova fase depois dela.
Na fase inicial desta formação do Talmud se destacou o rabino Hillel (c. 75 a.C. 10 d.C), nascido em Babilônia. É pois quase contemporâneo de Jesus. Fez-se conhecer também Gamaliel, a cujos pés aprendeu Paulo de Tarso (vd ).
Depois da queda de Jerusalém um discípulo de Hillel, Jochanan ben Zaccai, reorganizou uma academia judaica em Jâmnia (Palestina) e os estudos prosseguiram.
Os escribas (Sopherim) são chamados posteriormente de Mestres (tannaim), havendo deixado no Talmud o resultado de seu trabalho.
Talmud equivale em hebraico a dizer doutrina, ou explicação, ou ainda estudo. No contexto significa estudo da Torah (isto é, da Lei).
No Talmud se destacam duas partes:
Mishná (= ensino), do 2-o século, representando  o elenco principal;
Gemara (= decisão, ensino, complemento), datando do século seguinte.
Porque Gemara  se constitui de comentários ao livro anterior, - Mishná, - e dissertações várias, inclusive sob a forma de anedotas e contos edificantes, sobretudo nele  se destacam as diferentes diretrizes havidas no judaísmo.
Não é fácil determinar datas, porque se trata de uma obra coletiva. Mishná tem forma definitiva no 4-o século e Gemara no 6-o.
Além disto ocorrem duas linhas principais de tradição, a do Talmud (maior) de Babilônia, e a do Talmud (menor) da Palestina.

Devem-se os trabalhos principais da ordenação de Mishná sobretudo a Jehuda ha-nasi o "Príncipe" ou líder da comunidade judia palestina, falecido cerca do ano 219.
Contém o Mishná 6 partes (ou sedarim, isto é, ordens) abordando distintos temas: Seraim (sementes), sobre agricultura; Moed (festas), Shabath (sábado), Nashim (mulheres), Nezikim (prejuízos), sobre jurisprudência, Kodashim (coisas santas), sobre rituais, Toharoth (purificações).
O Talmud palestino, chamado também Talmud de Jerusalém, procede sobretudo da academia de Tiberíades, sendo atribuído na forma que hoje tem, a Johanan b.Nappacha (199-279), com possíveis complementações do século 4-o. O Talmud palestino foi escrito em hebraico e aramaico, próximo aos livros de Daniel e Ezra.
O Talmud de Babilônia foi compilado principalmente por Rav Aschi (352-427) completado pouco depois por Rabina e R. José. Apresenta-se mais completo e intelectualmente superior ao Talmud palestino.
Com o advento da imprensa, multiplicaram-se as edições. A primeira edição do Talmud Palestino se deu em Vêneza, 1523 ou 1524. Ali também se editou o de Babilônia, 1520-1531.
A edição de Basiléia, do Talmud de Babilônia (1578-81), sofreu mutilações, por censura cristã; fez-se todavia, de novo a correta impressão na edição de Amsterdam (1644-1648), onde era menos ferida a liberdade de pensamento.
As edições completas mais recentes usam fazer-se em 11 ou 12 volumes, acompanhadas de aparato crítico.


194. Que nos informa o Talmud sobre Jesus e o cristianismo? Diretamente, nada. Esta omissão praticamente total, representa a pouca significação que o movimento cristão inicialmente apresentava. Entretanto, o contexto, como um todo, é semelhante para o judaísmo e o cristianismo.
No Talmud apenas se encontram vagas referencias, no texto de Shemone Esre, nome de uma oração judaica, representada por 18 bênçãos que o judeu piedoso recitava três vezes ao dia.
Em termos injuriosos amaldiçoa aos minim, palavra que se traduz por heréticos. A importância da referência está em que ela poderia ser do 1-o século, talvez do seu final, que os otimistas supõem poder ser até anterior à queda de Jerusalém.
Quem seriam tais minim, ou heréticos? Seriam apenas os maus judeus em geral, os judeus apostatas? Dali passar positivamente aos cristãos, como judeus heréticos, não parece seguro.
Foi descoberto, e publicado em 1897, um texto do Schemone Esre na sinagoga do Cairo, em que se diz, desdobradamente, que "os nasrim (nazarenos, isto é Cristãos) e os minim (heréticos) sejam logo aniquilados"1.

Diz o texto no seu todo:
"Não haja esperança alguma aos apóstatas. Destrua celeremente o reino dos celerados. E pereçam logo os nazarenos e os heréticos. Sejam destruídos do livro da vida e não sejam inseridos com os justos. Bendito sejas Senhor porque confundes os soberbos".
Impõe-se logo, uma pergunta e de que nasce imediatamente uma reserva contra a precisão que o texto oferece tão singularmente: - de que época data a precisão? Se os demais textos não a apresentam, esta variante mais facilmente se acrescentou tempos após.
Então, para que o texto efetivamente e possa alegar como informação antiquíssima do primeiro século, seria necessário poder fixar sua data, o que não se conseguiu fazer.
O Talmud Babilônico refere-se ainda ao seguinte:
"No dia fixado para a execução antes da festa da Páscoa, pendurou-se Jesus de Nazaré, por ter com seus encantamentos seduzido o desviado Israel". O texto é uma referência expressa a Jesus. Sem se ter como fixar a data desta informação, ela é breve e poderá ser de séculos posteriores, se atendermos à data definitiva da redação final do Talmud.

Por Marcelo Esch Gomes

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